Mobilidade ativa para chegar são e salvo e forte
O deslocamento sustentável, como caminhar e pedalar, melhora o ar, o tráfego e a saúde. Mas esse vaivém ideal ainda passa longe das quebradas
Caminhar e pedalar é mais barato e saudável nas distâncias curtas, mas o deslocamento bom e democrático exige que todas as modalidades de transporte – motorizadas ou não – funcionem em harmonia e com qualidade. Como faz?
Se todos os deslocamentos de até cinco quilômetros nas cidades fossem feitos por mobilidade ativa, aquela que coloca o corpo em movimento e não queima combustíveis fósseis, os efeitos no trânsito, no meio ambiente e na saúde seriam ótimos. Para existir e funcionar bem, no entanto, esse deslocamento exige condições mínimas, a exemplo de calçadas e ciclovias boas e em quantidade suficiente, ruas seguras e transporte público e integração modal eficientes. Mas, com o crescimento das áreas periféricas — impulsionado por custo de vida e moradia alto nas áreas centrais —, as metrópoles brasileiras passaram a ser “cidades dispersas” e a população que vive nas quebradas sofre as consequências.
Chega na quebrada?
Em 2019, a cidade de São Paulo anunciou a reforma de 700 quilômetros de calçadas por R$ 2 milhões, ou seja, o valor médio foi de menos de R$ 30 mil por quilômetro reformado, porém, a área só representava 2% do total de calçadas.
Melhorar pavimentos e ampliar ciclovias são debate importantes do Plano Diretor das cidades, que define prioridades e alternativas para a circulação. Em São Paulo, por exemplo, o planejamento cicloviário apresentado em 2019 propõe 1,8 mil quilômetros de ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas e calçadas compartilhadas até 2028. Na elaboração do plano, a extensão de vias com tratamento cicloviário permanente era de cerca de 503,6 quilômetros, porém as vias da cidade somam 20,1 mil quilômetros. Ou seja: mesmo se atingir a meta, em 2028 São Paulo terá menos de 9% da sua área com cobertura cicloviária.
Futuro agora
Segundo a urbanista Ermínia Maricato, cidades grandes são ambientalmente insustentáveis. No artigo O Brasil na Era das Cidades-Condomínio, a ex-secretária municipal de habitação e desenvolvimento urbano de São Paulo escreveu: “A cidade compacta (contrária à dispersão horizontal), a mobilidade ativa (mais viagens a pé ou de bicicleta), o mix de usos (viabilizando a rua viva e segura durante a noite e durante o dia) são características que devem se somar à cidadania informada e participativa e ao combate à desigualdade de renda, raça e gênero”. Ermínia é professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP).
Em passagem pelo Brasil em 2017, para participar de um seminário de mobilidade promovido pela prefeitura de São Paulo, a ex-prefeita de Santiago do Chile, Carolina Tohá, também defendeu as melhores condições para a mobilidade a pé, de bicicleta, skate, patinete, triciclo, patins etc.. “Antigamente, se achava que estradas e ruas para carros mais potentes eram símbolo de modernidade e andar a pé seria algo superado, porém o futuro aponta para outra direção, com melhores calçadas e mais bicicletas.”
“Quem pedala ou anda a pé ajuda a desafogar o sistema de saúde e reduz a quantidade de carros nas ruas, que são responsáveis por parte da poluição” Paulo Romualdo, ciclista e preparador físico de atletas de alto rendimento
“Cidade compacta, mobilidade ativa e rua viva e segura devem se somar à cidadania informada e participativa e ao combate à desigualdade de renda, raça e gênero” Ermínia Maricato, urbanista e professora FAU-USP
Vaiv´ém Paulistano
- Transporte público 36,8%
- Veículos particulares 31,2%
- A pé 31,1%
- Bicicleta 0,9%
Fonte: Companhia de Engenharia de Tráfego (CET)
Pedal consciente
O estudante Juliano Silva, de 30 anos, nasceu e cresceu nos arredores do quilômetro 17 da rodovia Raposo Tavares, na zona oeste de São Paulo. Desde os 17 anos, ele usa a bicicleta para lazer, trabalho e estudo. No canal do YouTube Juliano Reverso, o ciclista fala de mobilidade e da vida nos pedais nas grandes cidades. “Houve a criação de ciclovias [em São Paulo], mas ainda não é o suficiente, principalmente nas periferias”. diz Juliano. “Além disso, não tem manutenção. Falta sinalização e educação no trânsito. Os ciclistas se sentem ameaçados. O risco de vida é um dos motivos que impedem as pessoas de usar bicicleta e outros meios de mobilidade ativa em São Paulo.”
Quilômetro por quilômetro
Uma organização de ciclistas dos Estados Unidos fez um levantamento mostrando que, por quilômetro construído, o custo de uma ciclovia representa 0,07% da mesma extensão em uma rodovia em São Francisco. São US$ 455 mil contra US$ 2 milhões. A melhoria nas calçadas para facilitar a circulação de pedestres sai por US$ 78 mil por quilômetro ou menos de 20% da ciclovia e 0,003% da rodovia.
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