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No Pará, ONG resgata autoestima de mulheres que tiveram o escalpo arrancado

Por: Cassio Miranda, Periferia em Foco . 13/10/2021

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No Pará, ONG resgata autoestima de mulheres que tiveram o escalpo arrancado

Organização acolhe vítimas de escalpelamento por motor de barco na periferia

2 minutos, 53 segundos de leitura

13/10/2021

Organização resgata autoestima de mulheres que sofreram acidente de barco. Foto: divulgação/Orvam

“Minha vida mudou completamente. Toda vez que olho para o motor, lembro o que aconteceu. Cada uma que sofre o acidente sinto a dor também”, diz a dona de casa Regina Formigosa, 48 anos, que teve o couro cabeludo arrancado pelo motor de um barco quando tinha 22 anos. O escalpelamento ocorre quando o cabelo fica preso e enrolado no eixo do motor da embarcação — o escalpo é puxado brutalmente e causa marcas físicas e emocionais nas vítimas.

No norte do Brasil, esse tipo de trauma é mais comum porque o transporte fluvial faz parte do dia a dia de boa parte da população. Os acidentes acontecem, geralmente, em pequenas embarcações construídas de modo artesanal por ribeirinhos. Mulheres e meninas de cabelos longos são as pessoas mais atingidas.

A Secretaria de Saúde do Pará diz que em 2020 foram registrados oito acidentes no estado. Em 2021, até o momento, ocorreram 12 casos. Sem mortes.

Assistência social

Para contornar o problema e estimular a autoestima das vítimas, nasceu a Organização dos Ribeirinhos Vítimas de Acidente de Motor (Orvam), uma instituição não-governamental e sem fins lucrativos que oferece assistência social, doações de perucas e alimentos.

O trauma deixa sequelas e mutilações no rosto, nas orelhas e nas pálpebras, sem falar nas idas e vindas do tratamento realizado na rede pública de saúde do estado. Muitas pessoas passam por cirurgias para reconstrução facial e, em casos mais graves, morrem.

A Orvam faz campanha em suas redes sociais para mobilizar a sociedade a colaborar com suas ações, principalmente, na doação de cabelos — que teve queda durante a pandemia. Uma das voluntárias no projeto é justamente a Regina, apresentada no início deste texto. Nascida em Muaná, na ilha do Marajó (PA), há 11 anos ela faz perucas para vítimas. “Aqui é pós-acidente. Uma mulher dá força para outra, uma convida a outra para vir e resgatar a autoestima. Gosto das oficinas e dos eventos que são feitos. Temos uma vida diferente, porém com mais prazer de viver”, afirma.

“Usar um cinto, um acessório, vestir cores alegres e vibrantes servem de ferramentas para melhorar a autoestima das mulheres, dando empoderamento a elas na luta contra o preconceito e amenizando as dores de seus traumas”, diz Juliana Vásquez, consultora de imagem que já ministrou oficina de moda e beleza na Orvam.

A assistente social e presidente da ONG, Darci Lima, conta que quem vive com as sequelas enfrenta o preconceito nas ruas, no transporte público e até na hora de conseguir um trabalho. “A maioria das vítimas são ribeirinhas, então tudo é mais difícil para elas. Os acidentes são comuns em embarcações da própria família porque esse é o único meio de transporte delas. Depois do acidente, muitas relatam sofrer preconceito e discriminação”, diz. A instituição, segundo Darci, atende 160 pessoas e teve uma queda nas doações de cabelo durante a pandemia.

Prevenção e cuidados 

A Capitania dos Portos da Amazônia Oriental é responsável pela fiscalização, prevenção e orientação. Ela distribui e adapta gratuitamente o equipamento de proteção no eixo do motor nos barcos. Desde 2009, o item é exigido por lei, mas muitos ainda navegam sem a peça e os riscos de acidentes são maiores. A reportagem tentou ouvir a Capitania, mas não teve retorno.

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