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Nós, Carolinas: a importância de mulheres das periferias narrarem suas histórias

Por: Bianca Pedrina, cofundadora e gestora do veículo de comunicação Nós, mulheres da periferia . 14/12/2021

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Nós, Carolinas: a importância de mulheres das periferias narrarem suas histórias

Curta-metragem de autoria do Nós, Mulheres da Periferia narra a vivência de quatro mulheres que moram nas bordas da cidade de São Paulo

Dona Carolina é uma das mulheres retratadas no documentário 'Nós, Carolinas'. Foto: divulgação

Você conhece Carolina Maria de Jesus? Mulher, negra e favelada que fez história após lançamento de seu livro Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada, publicado em 1960, em que conta sua vivência na favela do Canindé, em São Paulo.

Carolina, a partir da publicação de seu livro, abriu caminho para ser reconhecida como escritora. Posicionou-se no centro da história e mostrou, com o olhar de dentro da periferia, a privação de direitos para quem é considerada marginal na sociedade. Contou sobre uma periferia que poucos tinham acesso, mas que sempre foi habitada pela maioria. “Minha história não é importante”, pensamos nós que vivemos à margem.

Carolina, a partir de sua perspectiva, rompeu amarras impostas socialmente e transformou o jeito de contar sobre o que é ser pobre, sem o olhar, por vezes ainda carregado de preconceitos, de quem está fora. Não romantizou a periferia, narrou seu território de maneira nua e crua, e questionou os poderosos que esqueceram e até hoje esquecem que existe gente morando nessas localidades. Deixou um legado, e hoje é vista como uma das precursoras na literatura chamada de periférica por uns, marginal por outros, mas que para mim é literatura pura e simplesmente, porque segmentar de alguma maneira é segregar.

Sua história e trajetória como escritora, mesmo em um ambiente ainda branco, rico e masculino — não era lugar para uma mulher preta —, foi inspiradora para o Nós e para mim, pois ela humanizou a periferia. Sempre tentam nos colocar como marginais e Carolina mostrou que na favela existe, apesar de toda a precariedade, narrativas que merecem ser o centro.

Esse foi sempre o sentido de existir do Nós, contar histórias de mulheres negras e periféricas, a partir de nossa vivência das periferias. Missão que perseguimos todos os dias e que foi concretizada em um documentário com falas e histórias de Carolinas atuais.

O curta-metragem Nós, Carolinas – Vozes de Mulheres das Periferias, produzido e dirigido pelo nosso coletivo e lançado em 2017, narra a vivência de quatro mulheres que moram nas bordas da cidade de São Paulo e enfrentam, por serem negras e das periferias, desafios cotidianos para se reinventar, perseguir seus sonhos e encarar a realidade como podem.

Nós, Carolinas traz experiências e vozes dessas quatro mulheres que moram em diferentes bairros da cidade de São Paulo: Parque Santo Antônio, zona Sul; Jova Rural, zona norte; Perus, região noroeste e Guaianases, na zona leste. O filme foi resultado de uma série de oficinas que fizemos nas periferias. Entre as aulas, técnicas de fotografia e de escrita.

Dona Carolina é uma mulher cheia de memórias sobre o interior de São Paulo. Renata Ellen Soares, uma menina que se orgulha de seu cabelo black-power. Joana Ferreira, mulher que voltou a estudar depois dos 50 anos. Tarcila Pinheiro, arte-educadora que dribla o tempo para conciliar maternidade e sua vida pessoal. Todas elas conectadas por uma mesma geografia: a periferia da cidade mais populosa do Brasil.

O documentário mostra de maneira muito sensível como essas mulheres encaram sua invisibilidade. No vídeo, usam a voz para romper silêncios, assim como fez a escritora Carolina Maria de Jesus com sua escrita.
Resgatado aqui o curta-metragem porque ele será transmitido na mostra Um Brasil para Carolina, com curadoria de Bruno Galindo, no IMS (Instituto Moreira Salles).

Os filmes fazem parte da exposição Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os Brasileiros, que está em cartaz em São Paulo até março de 2022. O primeiro ciclo de exibição já está ocorrendo e conta a trajetória de Maria Carolina de Jesus e reflete a dimensão narrativa central do livro Diário de Bitita: as primeiras décadas do período pós-abolição e, sobretudo, a trajetória da protagonista, que nasceu em Sacramento (MG) em 1914 e radicou-se na cidade de São Paulo na década de 1930. No segundo ciclo, “Rachas e Quebras”, em que o documentário “Nós, Carolinas” será exibido, estará disponível a partir desta quarta, 15 de dezembro, com transmissão até 5 de janeiro de 2022.

Para acompanhar todos esses documentários é só acessar o site do IMS. Indico também a visita à exposição, na Avenida Paulista, com entrada gratuita, e que fica em cartaz até o dia 27 de março de 2022. Os horários para visitação e dias também podem ser conferidos no site do instituto.

Deixo ainda a indicação da edição especial do Expresso na Perifa que também traz as narrativas de Carolinas dos tempos atuais. Para acessar clique aqui e baixe o pdf

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