Muitos podem até não se lembrar como era a vida pré-Uber. Antes do transporte por aplicativo se consolidar, se alguém precisasse se deslocar pela cidade ou sair à noite, as únicas alternativas ao transporte coletivo (ônibus, metrô e trem) eram os amigos com carro e os táxis — esses, regulamentados pelas prefeituras e em número limitado, eram caros. À noite, fins de semana e feriados a cobrança adicional da Bandeira 2 os tornavam ainda mais inacessíveis.
A expansão dos smartphones abriu caminho para a chegada ao País, em 2014, de aplicativos como o Uber, que nasceu nos Estados Unidos, em 2009, justamente para suprir a necessidade dos dois jovens que fundaram a empresa: a dificuldade de encontrar um táxi na noite de São Francisco. Eles perceberam que havia ali a oportunidade de juntar motoristas particulares dispostos a compartilhar seus veículos a preços mais camaradas.
Ao mesmo tempo, a conexão entre passageiro e motorista engatinhava no Brasil. Antes de o Uber vir para cá, alguns usuários já utilizavam, em 2011, aplicativos de táxis, como Easy Táxi (incorporada à Cabify, em 2019) e 99Táxis (que depois virou 99). Mas Uber, 99 e Cabify não surgiram como empresa de transporte e sim de tecnologia, que conecta motoristas a pessoas que precisam se deslocar a um valor acessível.
A revolução foi tamanha que taxistas fizeram uma série de protestos contra as empresas de transporte por aplicativo, serviço que chegou a ser regulamentado e, no primeiro momento, proibido em alguns municípios. Apenas em 2018, uma lei federal regulamentou a modalidade.
O cenário mudou na vida dos usuários. Hoje, o transporte por aplicativo é uma opção de serviço de mobilidade mais acessível, segura e que proporciona liberdade de escolha. De tão transformadora, a tecnologia se multiplicou. Um estudo feito pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no início deste ano, apontou que havia 253 aplicativos do gênero. Muitos só abrangem locais específicos e nichos de mercado. Por isso, é preciso prestar atenção para ter a sua necessidade atendida. Veja quais são as principais empresas presentes no país nesse segmento e seus diferenciais.
Uber cria delivery e assinatura
A Uber atua no Brasil desde 2014, com um milhão de motoristas e entregadores e 22 milhões de usuários em mais de 500 cidades. No transporte de passageiros, oferece serviços populares como o Uber X e Promo, Premium (Comfort e Black) e táxi. O aplicativo ainda opera com entregas de restaurante (Eats) e mercado (Cornershop). Em 2020, a empresa lançou o Uber Flash, opção para clientes enviarem artigos pessoais.
Outra novidade é o plano de assinatura Uber Pass, que reúne todos os serviços da plataforma a R$ 24,99 por mês. Entre os benefícios, o plano dá 10% de desconto nas viagens de UberX e entrega grátis nos pedidos do Eats acima de R$ 30 e do Cornershop a partir de R$ 100.
Incentivar a base de motoristas mulheres é outra ação recente da Uber, com o programa “Elas na Direção”, que permite às motoristas receber chamadas de passageiras mulheres. As usuárias, contudo, não conseguem optar por motoristas mulheres.
- 1 milhão de motoristas cadastrados
- 22 milhões de pessoas atendidas
- Atuação em mais de 500 cidades do país
99 permite chamadas por WhatsApp
Com mais de 750.000 motoristas e 20 milhões de passageiros no Brasil, a 99 — que surgiu em 2012 apenas com táxis — iniciou o transporte com carros particulares em 2016 e hoje opera em 1.600 cidades. Segundo a Didi Chuxing (“DiDi”), detentora do aplicativo desde 2017, a maioria dos passageiros é mulher, totalizando quase 60%.
A plataforma dispõe do 99Pop, Taxi, Top (táxis de luxo em São Paulo), Compartilha (limitado a dois passageiros) e Comfort (veículos novos e espaçosos). Há facilidades ainda restritas a poucas cidades como Entrega (objetos pessoais), Food (entregas de restaurante), Pay (carteira digital) e solicitação de viagens por WhatsApp (sem a necessidade de baixar o aplicativo), por ora, disponível apenas em quatro cidades do interior de São Paulo: Araraquara, Bauru, Presidente Prudente e São Carlos.
Recentemente, a empresa lançou o 99Poupa, com descontos de até 30% sobre horários de maior procura. Outro investimento é na segurança, com a expansão de câmeras embarcadas nos automóveis, gravação de áudio e direcionamento preferencial de passageiras mulheres para motoristas também mulheres.
- 750.000 motoristas cadastrados
- 20 milhões de pessoas atendidas
- 60% dos usuários são mulheres
Cabify apoia sustentabilidade
A Cabify está presente desde 2016 em 47 cidades do país (exceto região Norte), oferecendo serviços de táxis e carros particulares. Entre seus diferenciais, a plataforma afirma que compensa 100% de suas emissões de carbono por meio de um projeto de preservação de árvores na Amazônia, além de seu aplicativo ser acessível a pessoas cegas.
Em 2020, a Cabify lançou o serviço de entrega e uma ferramenta para motoristas e taxistas, no qual eles podem compartilhar a localização em tempo real e, caso necessário, acionar autoridades policiais.
- Presente em 47 cidades do país
Como são calculadas as tarifas do transporte por aplicativo
As três multinacionais – Uber, 99 e Cabify – operam com variação de preços de acordo com horário, eventos e quantidade de chamadas. A Uber explica que o preço da viagem pode subir em caso de aumento de demanda em relação ao número de motoristas que circulam numa região. Mas isso é sempre informado no momento da chamada. Já a 99 afirma que a flutuação de valores depende da oferta e demanda no instante da chamada, de acordo com a disponibilidade de motoristas, tempo de deslocamento e quilômetros rodados.
Empresas de transporte por aplicativo menores buscam alternativas
Para se diferenciar em um mercado tão concorrido, a saída é inovar. Os usuários já podem encontrar aplicativos de transporte que permitem negociação do preço da viagem, os especializados em levar a vovó ao médico, aquele que só tem motoristas mulheres para levar mulheres e crianças e até um app 100% de táxis. Confira:
inDriver negocia valor com usuário
No Brasil desde 2018, fundada na Sibéria (Rússia), o aplicativo inDriver aposta no que chama de liberdade de escolha e está presente em 147 cidades. O usuário define um valor para sua corrida e negocia com motoristas particulares ou taxistas. Outro serviço da empresa é o delivery, que transporta de pacotes até 20 kg.
- Presente em 147 cidades
- Serviço de delivery de até 20 kg
Vá de táxi opera com taxistas
Operar exclusivamente com taxistas é o princípio da Vá de Táxi, que nasceu em 2013 da parceria com uma seguradora e expandiu os serviços para pessoas físicas. A CEO da empresa, Glória Miranda, garante que os motoristas passam por criterioso processo de seleção, considerando seu histórico e experiência.
O aplicativo possui cerca de 140.000 taxistas cadastrados. Para os passageiros, o táxi tem a vantagem de trafegar em corredores de ônibus em cidades como São Paulo, garantindo, na maioria das vezes, boa economia de tempo. O aplicativo oferece ao usuário descontos que chegam a 30% no valor da corrida e opções de viajar a preço fixo e variável (pelo taxímetro).
Eu Vô é transporte por aplicativo que mira os idosos
A plataforma foi lançada em 2017 por uma motivação pessoal: a mãe dos fundadores é portadora de esclerose múltipla. Com o avanço da doença, ela ficou com a mobilidade reduzida, o que a impedia de dirigir e usar transporte comum. Os filhos viram nisso uma oportunidade de negócio, que surgiu em São Carlos (SP) e hoje também atua na capital paulista.
A Eu Vô capacitou mais de 100 motoristas, treinados por profissionais da área da saúde. Os serviços são agendados, feitos de porta em porta e, apesar do nome, não se restringem apenas a idosos. A tarifa é baseada no tempo e na distância de cada serviço e pode ser simulada no aplicativo. A plataforma incluiu, recentemente, a possibilidade de múltiplas paradas em um agendamento e a recorrência de compromissos.
Só motoristas mulheres na Lady Driver
Mais um serviço segmentado é oferecido pelo Lady Driver, aplicativo fundado em 2017 por Gabryella Corrêa, em que a passageira é levada por uma motorista mulher. A ideia surgiu quando Gabryella sofreu assédio de um motorista de aplicativo. Ele funciona apenas nas cidades de São Paulo e Guarulhos e é voltado a mulheres e crianças (também aceita casais, mas o cadastro tem de ser da mulher). Em 2021, a ideia é expandir para outras cidades do país e até América Latina por licenciamento da marca.
Outro plano é estender o Lady Driver para o transporte regulamentado de crianças. Hoje, a plataforma já é bastante utilizada por mães que não podem levar filhos a compromissos. O novo serviço poderá atender à demanda de crianças e adolescentes que precisam se deslocar a atividades extracurriculares (natação, inglês, balé), criando, inclusive, uma fonte de renda para as chamadas “mãetoristas”.