Após um ano de BRT, mobilidade urbana em Salvador ainda depende do sistema rodoviário tradicional
Dos 30 milhões de usuários por mês do sistema rodoviário tradicional, 600 mil foram de ônibus de transporte rápido
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25/10/2023
Por: Erick Souza, especial para o Mobilidade
Em junho, o projeto da BRT de Salvador recebeu uma menção honrosa durante o Prêmio Parque da Mobilidade Urbana, reconhecimento nacional que destaca iniciativas de mobilidade urbana inovadoras no País.
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No caso da BRT (Bus Rapid Transit, sigla em inglês, ou ônibus de transporte rápido) da capital baiana, a homenagem reconheceu as práticas sustentáveis do plano de implementação do modal desde o início da operação.
O BRT de Salvador começou a funcionar, ainda como uma fase de teste, no dia 30 de setembro do ano passado. Desde então, o projeto opera com 26 ônibus, sendo oito deles elétricos, em duas linhas de serviço. O trajeto inclui as estações Rodoviária, Hiper, Cidadela, Parque da Cidade, Itaigara e Pituba.
Diversificando a oferta
De acordo com a Secretaria de Mobilidade (Semob), o BRT surgiu como uma alternativa ao ônibus convencional e ao metrô da cidade. A frota de Salvador conta, atualmente, com cerca de 1.780 ônibus, além de um sistema de transporte complementar, com mais 150 micro-ônibus.
“A ideia foi exatamente atender a uma área que não é assistida pelo metrô e trazer um transporte de média e alta capacidade, com conforto e qualidade”, afirma Fabrizzio Muller, secretário de Mobilidade da cidade.
Apesar da instalação do metrô na cidade, em 2014, ter oferecido mais um serviço de locomoção pública, o transporte rodoviário sobre rodas ainda é o principal meio utilizado na capital baiana. Assim, a principal demanda vem das regiões que o serviço sobre trilho não alcança.
Em contrapartida, a estrutura do BRT ainda é uma exclusividade dessas regiões que já são providas de outras alternativas de transporte público. Segundo o professor Pablo Forentino, do Instituto Federal da Bahia (IFBA), a baixa demanda do local não impacta a população geral. “A área em que a BRT opera é uma região de urbanismo consolidado, onde a população tem maior poder aquisitivo”, explica.
Sistema rodoviário de Salvador
O serviço comum de ônibus funciona em duas grandes bacias espaciais na capital. Antes da pandemia da covid-19, entretanto, a região toda era dividida em três grandes áreas, atendidas, também, por outra empresa prestadora do serviço de transporte.
Em agosto, mais de 30 milhões de pessoas utilizaram os serviços de ônibus na cidade. Apenas no serviço exclusivo do BRT, foram 600 mil transportadas.
A população de Salvador chegou a 2.418.005 pessoas no último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022. O número marcou uma queda de -9,63% em comparação com o resultado de 2010. A capital também perdeu o posto de mais populosa da região Nordeste, agora representada por Fortaleza, no Ceará.
Para Florentino, o serviço rodoviário da cidade é precário. “Os ônibus têm demorado mais, as pessoas têm esperado mais [e ainda é] uma das passagens mais caras, considerando a renda per capita média de Salvador”, comenta o também membro do Observatório da Mobilidade Urbana de Salvador.
De acordo com um estudo realizado pelo Observatório, com dados do Anuário de Transporte Público da Prefeitura, a quantidade de veículos que transita por hora nos principais corredores da cidade vem diminuindo a cada ano.
No corredor 1, por exemplo, entre os anos de 2020 e 2021, o número de ônibus por hora caiu de 364 para 316. A frota operante também caiu no mesmo período, de 1853 para 1776 de um ano para o outro.
Desde a pandemia e o aumento do uso de viagens por aplicativo, a demanda por transporte público tem diminuído em todo país. Em Salvador, essa queda acarretou, inclusive, na falência de uma das três empresas que ofereciam serviços de ônibus na capital.
“Todo financiamento é em razão da tarifa. Na pandemia, a gente utilizou instrumentos contratuais para manter o serviço sem nenhuma penalidade para a população, mas ainda persiste uma dificuldade de demanda”, explica Fabrício, o secretário de Mobilidade da cidade.
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Segurança na mobilidade
Salvador foi uma das cidades brasileiras a alcançar a meta da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. O objetivo era reduzir pela metade, até 2020, o número de mortos e feridos por acidentes de trânsito. No ano limite, a capital já havia reduzido a 54%, em comparação com 2010.
“Embora os dados da prefeitura sejam de redução no número de mortes, a população não se vê convidada a caminhar ou andar de bicicleta pela cidade”, afirma Pablo Florentino.
Para o professor, apesar da meta, Salvador ainda tem medidas de trânsito que não beneficiam os pedestres. “[Em Salvador], faz-se uso de velocidades altíssimas que penalizam os idosos, as crianças, as pessoas com dificuldades de mobilidade. Só geram dificuldade de acessibilidade”, comenta.
Segundo Juan Delgado, o fluxo nos meios de transporte também sofre por isso. “Como que o passageiros vão acessar esses serviços sem calçadas? [Cerca de] 40% das viagens de Salvador são feitas a pé”, explica o professor do Departamento de Engenharia de Transportes e Geodésia na Universidade Federal da Bahia.
Esse percentual representa em torno de 1,2 milhão de viagens. E, como referência, todo trajeto acima de 500 metros são consideradas viagens a pé.
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