Projeto de meninas cientistas transforma óleo de cozinha em biodiesel
Combustível, que será utilizado em ônibus escolares, é resultado da pesquisa de estudantes de escola pública do Paraná
5 minutos, 6 segundos de leitura
22/08/2023
Por: Redação Mobilidade
Um projeto de meninas cientistas transformou óleo de cozinha em biodiesel, no Paraná. O grupo de estudantes que realizou o projeto é do Colégio Estadual Conselheiro Carrão, escola pública de Ensino Médio em Tempo Integral, em Assaí (PR). Assim, as jovens criaram uma startup júnior para a geração do biodiesel.
O projeto de iniciação científica 100% feminina é fruto de uma parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR). Assim, fizeram um dos ônibus escolares municipais funcionar com o biodiesel criado na escola. Após a demonstração, o veículo ainda seguiu circulando por quase uma semana com o combustível sustentável.
Segundo Matheus Rossi, professor de Química e Física e orientador do trabalho, o objetivo número um do projeto “BIOSUN” é organizar a produção do biocombustível dentro da escola. Além disso, visa promover a criação de uma “linha verde” na cidade, com foco nas políticas públicas de mobilidade urbana e sustentabilidade.
“A ideia das estudantes é transformar, com o apoio da prefeitura, parte dos ônibus escolares em uma linha específica que só opere com o biodiesel produzido por meio do projeto. É uma forma de solucionar o problema de descarte irregular de compostos orgânicos e, ao mesmo tempo, promover uma verdadeira experiência tanto científica quanto empresarial”, explica o docente.
A criação do projeto e da startup surgiu a partir da ideia de competir no Hackathon municipal desenvolvido pela Secretaria de Ciência Tecnologia e Inovação (SCTI) e pela prefeitura.
Metodologia para a transformação
O projeto se baseia na premissa de que o óleo de cozinha, em sua maioria, passa por reciclagem em forma de sabão. Porém, quando adicionado a alguns produtos químicos, é possível produzir um combustível alternativo, ecológico e com menores índices de poluição.
Assim, no BIOSUN, o resíduo arrecadado é esquentado e mesclado com um álcool e uma base forte. As primeiras levas foram produzidas na própria escola e as demais versões foram desenvolvidas dentro da UFPR, no polo Jandaia do Sul.
“Inicialmente, foi realizada uma coleta de amostra, uma pequena quantidade que seria o suficiente para o ônibus participar do desfile. Durante essa fase, foram arrecadados o equivalente a 12 litros de óleo, dos professores do colégio, que foram transformados em 10 litros de biodiesel”, explicou Rossi.
De acordo com o professor, a transformação do óleo de cozinha em biodiesel ocorreu por meio de um processo chamado transesterificação. Primeiramente, o óleo passou por filtragem para remover quaisquer resíduos sólidos.
Em seguida, a equipe aqueceu o óleo e misturou com um álcool e uma base forte. Essa reação química produziu biodiesel e glicerol. Após a separação do biodiesel do glicerol, ele passa por quatro etapas de lavagem, para utilização.
“A estrutura utilizada para esse processo foi o Laboratório da UFPR no polo de Jandaia do Sul. O espaço proporcionou um ambiente adequado para a execução das etapas de produção, garantindo a segurança e eficácia do procedimento. Há uma expectativa de criar uma planta de produção de biodiesel dentro do colégio”, projeta o professor.
Além disso, a escola, que faz parte do Núcleo Regional de Ensino Cornélio Procópio, também contou com o apoio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da prefeitura de Assaí (PR).
Próximos passos
Além de aguardar a avaliação de viabilidade sobre a proposta de criação de uma “linha verde” na cidade, as jovens cientistas querem desenvolver uma continuação do trabalho que direciona os resíduos da produção do biodiesel, com foco no reaproveitamento integral dos recursos.
“Outros objetivos são encontrar parceiros, tanto na indústria química, visando obter reagentes e materiais no menor custo possível, possibilitando a produção de um biodiesel de bom custo-benefício, como também um investidor que proporcione a criação de um novo laboratório”, finaliza o professor Matheus Rossi.
Quem são as estudantes?
As alunas que participaram do projeto são Eduarda Pietra, Fabiane Hikari e Letícia Ayuimi, de 16 anos, junto a Eduarda Miura e Luiza Alves, de 17 anos. As jovens contam que o interesse por ciência foi um dos combustíveis que motivou a participação no projeto.
“Cresci com afinidade com laboratórios, a parte prática de experiências me deixava curiosa. A oportunidade de montar um projeto no qual eu pudesse desenvolver algo científico me instigou muito. Junto com a sustentabilidade que sempre pratiquei dentro de casa, parecia ainda melhor”, conta Eduarda Pietra.
“O projeto me proporcionou uma experiência de como é a vivência em laboratório. Isso é algo que me interessa muito e despertou algumas ideias sobre o que quero cursar na faculdade. Além disso, a ideia do projeto em si é muito interessante e divertida de trabalhar. Visto que priorizamos o interesse educacional, ao invés de transformar isso em uma atividade lucrativa”, relata Eduarda Miura.
Letícia também compartilha do mesmo sentimento. “Sempre quis participar de algo que envolvesse ciência e elaboração de projetos, então quando perguntaram se eu queria, logo aceitei. O fato de envolver sustentabilidade também foi um fator importante que me interessou muito”.
Por sua vez, Luiza iniciou pela curiosidade e com o foco no futuro. “Meu interesse no projeto surgiu da oportunidade de conhecer mais a fundo como funcionaria um projeto científico e o trabalho dentro de um laboratório. Além de envolver a indústria química que é a área que pretendo trabalhar.”
Fabiane também relata ter gostado da experiência. “Me interessei tanto pelas causas sociais quanto pelo conhecimento adquirido logo no começo. A jornada no total foi muito interessante e esclarecedora, fez eu me encontrar e ter uma perspectiva de futuro mais clara.”
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